sábado, 4 de dezembro de 2010

Pergunte ao universitário

- Trabalho vencedor na Categoria Jornalismo Interpretativo - Perfil, na V Semana de Estudos da Comunicação da Faculdade Boas Novas!


Cursar o Ensino Superior deixou de ser sonho para muitos brasileiros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, entre 1998 e 2008, o número de estudantes universitários passou de 6,9% para 13, 9%. O crescimento é atribuído, em parte pela ascensão da classe C, que já equivale a 23% das matrículas no Ensino Superior; ao aumento do número de universidades e faculdades no país; e à consequente redução no valor das mensalidades.

O que antigamente era privilégio apenas dos filhos de burgueses, hoje está cada vez mais ao alcance de todos. O sonho do diploma universitário pode virar realidade para pelo menos 6, 5 milhões de brasileiros. Esse contingente foi formado ao longo dos últimos 6 anos representando um aumento de 46%.

Fazendo um recorte entre esses mais de 6 milhões que esperam o tão desejado diploma estão aspirantes à médicos, educadores, engenheiros, jornalistas e tantas outras profissões que formam o leque de cursos de graduação do Ensino Superior. Dentre tantos, um me salta aos olhos. Ele entra uníssono na sala de aula, com um “boa noite” de locutor, ele é mais um acadêmico no curso de Jornalismo noturno da faculdade que carrega em seu nome uma das mais gratificantes possibilidades do jornalismo, trazer “Boas Novas”.

Dos bancos de ônibus para as carteiras da faculdade. Assim se resume a rotina de Antônio Carlos Rangel Bastos, 46 anos, universitário e motorista de ônibus na cidade de Manaus. Após 21 anos sem estudar, Rangel vê no curso de Comunicação Social um futuro promissor, quer ser jornalista formado e trabalhar no rádio.

“No meu tempo se escrevia no quadro negro com giz. Hoje, os recursos tecnológicos invadiram a sala de aula e facilitam muito a vida dos estudantes”, diz Rangel. Se antes, pelas palavras de Paulo Freire, a educação era a bancária, o que se vê atualmente é uma constante troca de conhecimento. Para o universitário, o fluxo de informações é tão grande, que às vezes, ele não consegue acompanhar. “Acordo todos os dias às quatro da manhã, quando chego à faculdade já estou muito cansado, mas mesmo com as dificuldades continuo sendo persistente”, afirma.

Com pouco saudosismo, Rangel relembra os tempos de escola e dos métodos que eram usados, como as sabatinas com os famosos “bolos” com palmatória de madeira Acapul. “Na época, se um colega dissesse algo na sala de aula era prontamente expulso, era considerada uma afronta ao professor”.

Rangel também faz parte do quadro dos brasileiros que se dividem entre o emprego e o estudo. O IBGE aponta que a proporção de universitários que trabalham passou de 63%, em 1998, para 71% em 2008. Um número que mostra o desejo do brasileiro em obter uma melhor qualidade de vida, já que possuir um diploma de ensino superior pode gerar um aumento de 171% na renda média do trabalhador.

Quando pergunto ao universitário sobre seu sonho, Rangel é enfático: “Na sala de aula enfrento minhas dificuldades em busca de conhecimento para exercer uma nova profissão. Já fui açougueiro, taxista, pescador, sou motorista de ônibus há 22 anos, mas daqui a dois anos, com meu diploma na mão e muitas idéias na cabeça, vocês me ouvirão nas ondas do rádio”.

Por enquanto, ainda no 4º período de Jornalismo, além de dividir suas experiências e aprender com os colegas e professores, Rangel mostra que não há idade para buscar conhecimento e que não devemos apenas sonhar, mas construir nossos sonhos com nossas próprias mãos. As de Rangel buscam deixar o volante para segurar de um lado, um diploma, e do outro, um microfone.



Esse é: Antônio Carlos Rangel Bastos
Nossos agradecimentos por nos deixar falar um pouco sobre sua história!
Equipe: Alice Souza, Anne Ketlen Moraes, Cynthia Assunção e Rayron Nascimento





terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Sorriso do palhaço


... não é a primeira vez que isso me ocorre. Na verdade, há algum tempo passei a enxergar as coisas de uma maneira diferente. Não sei se em virtude de uma vida muito conturbada, agitada. Mas parece que tudo está estranho, nada mais é como antigamente...

Lembrei-me de uma infância não tão distante, dos deslumbres de criança, das explosões de felicidade, dos rompantes de uma alegria inocente e simples. Na ânsia de crescer, esquecemos do quanto as pequenas coisas nos faziam felizes. Hoje, nosso desejo premente clama por coisas palpáveis, por um carro novo, uma casa, um apartamento...

Quando criança, sonhei em ser astronauta. Uma proximidade com a lua inspirava boa parte das minhas brincadeiras. Imaginava-me caminhando no terreno desconforme, conversando com o dragão, passeando por entre as estrelas. Foi quando conheci o Pequeno Príncipe e aprendi que na lua, num planeta, ou dentro de uma caixa, pode haver tudo que a minha imaginação quiser.
Mas a minha imaginação foi, aos poucos, dando lugar a minha razão. A racionalidade que me distingue do dragão transformou-me no que sou hoje. E o hoje, frequentemente quer voltar atrás... Percebi que é o passado que nos alimenta. Nossas experiências anteriores, como diz Paulo Freire, é que formam a nossa visão de mundo, então o que sou hoje, é resultado de tudo que vivi anteriormente.

Pois bem. Enquanto o meu eu de hoje dirigia despretensiosamente pelas ruas da cidade, uma placa chamou minha atenção, decodifiquei-a: circo novo na cidade. Surpreendentemente, enquanto o meu eu de hoje guiava minha vida e minhas responsabilidades, o meu eu do passado rememorava a empolgação circense que essa notícia trazia. Ah, o circo! Crianças eufóricas, animais, música, dança e palhaços... Como eu adorava os palhaços! Mas confesso que nunca entendi porque se maquiavam. Sempre quis conhecer um, sempre quis descobrir como faziam para serem tão felizes... Sonhei em ser palhaço, também...

“-Verde! O sinal abriu!” A criança do carro ao lado narrava a vida. Segui adiante, mas o pensamento ainda pairava sobre aquela figura camuflada. “Quem inventou que o palhaço tem que se pintar?” Essa era a pergunta que mais me instigava enquanto criança. Será que hoje sei responder? “Ora, o palhaço pinta o rosto para viver!” Mas, certamente, essa resposta não atenderia às expectativas daquela menina que se guardara dentro de mim.

Nada mais é como antigamente. Os sorrisos não brotam mais com tanta facilidade... Os sonhos já não alcançam mais a lua... Não converso mais com dragões. Não quero mais ser astronauta, e descobri que atrás daquele nariz de palhaço e da pintura colorida há um estranho.
Estranho, nada mais é como antigamente... Abri a minha caixa da imaginação e fui ao circo me encontrar...

“Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando” Charles Chaplin

“A última flor do Lácio”

Vencedor do Expocom Regional Norte - Intercom 2010 no Acre


A língua de Camões sempre me desafiou. Ora por suas regras incalculáveis, ora pela pluralidade que lhe é peculiar. Encantei-me cedo, o gosto pela língua materna surgiu ao folhear as páginas de “O Pequeno Príncipe”, obra-prima do jornalista e piloto francês Antoine de Saint-Exupéry, uma fábula cheia de metáforas e enigmas que me instigavam a cada página.

Talvez o fato de ter aprendido a ler muito cedo tenha contribuído com essa paixão, mas acredito que o fator preponderante foi crescer ouvindo "um português com açúcar", expressão utilizada pelo grande escritor luso, Eça de Queirós, ao se referir ao falar dos brasileiros. Tal suposição encontra suporte teórico nas palavras do “pai da lingüística moderna”, Ferdinand de Saussure ao afirmar que “a língua é produzida socialmente” e como fruto do meio ela nos é constantemente adquirida. Nessa visão saussuriana “a língua é parte social da linguagem, exterior ao indivíduo”, e o homem, como ser social, tem necessidade de se comunicar, se expressar e perpetuar experiências nesse contexto da vida em sociedade.

Trazida por Cabral às terras do pau-brasil, a língua portuguesa constitui-se em elemento determinante na construção da identidade cultural do povo brasileiro, recebendo influências não só do latim, originário da região do Lácio, no centro da Itália antiga; mas também de outras línguas, como o grego, árabe, espanhol, italiano, africano e as línguas indígenas das mais diversas etnias, como o tupinambá e o tupi, além de muitas outras. O português passou por uma significativa evolução histórica recebendo contribuições de várias culturas formando a língua que falamos hoje e que se moderniza acompanhando a evolução global.

Para além dos objetivos da expansão lusitana, a língua portuguesa foi largamente difundida, sendo na atualidade, a língua oficial em oito países de quatro continentes: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. O resultado dessa difusão é um número significante de falantes de português pelo mundo, e uma consequente organização dos mesmos, com a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 1996, com o intuito de uniformizar e difundir a língua através da cooperação e do intercâmbio cultural entre os países membros.

Atualmente, "a doce língua", assim chamada pelo romancista espanhol Miguel de Cervantes, possui aproximadamente 240 milhões de falantes nativos e é a quinta língua mais falada no mundo segundo a Agência de Notícias de Portugal. Outro dado interessante é a estimativa fornecida pelo site de estatísticas mundiais da Internet, o Internet World Stats que revela o português como o sexto idioma mais utilizado na rede mundial de computadores, com 73 milhões de usuários, o que mostra a considerável posição da nossa língua no âmbito mundial.

A língua portuguesa é fonte de inspiração para diversos poetas, não só brasileiros, mas também estrangeiros, como a brasileira naturalizada Clarice Lispector, que expressa sua admiração pelo português em versos: “Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor”. Essa língua abundante em poesia, tão retratada pelos poetas, é a mesma com que nos comunicamos em nosso cotidiano. E para visualizarmos melhor a riqueza desse idioma, é necessário que busquemos conhecer suas raízes históricas, sua expansão, a relação com outras culturas, sua característica dinâmica e poética e sua projeção no mundo enquanto língua oficial de um país em crescente ascensão econômica e política.

No livro do Desassossego, o heterônimo Bernardo Soares, do poeta e escritor português Fernando Pessoa, reproduz sua paixão pela língua através da frase "Minha pátria é a língua portuguesa", onde traduz com eloquência sua visão patriota. E é com esse mesmo entusiasmo que reverencio minha língua materna, rica em vocábulos, repleta de proparoxítonas, ambiguidades e redundâncias. Ela é a expressão plena da diversidade cultural do povo brasileiro, prova contundente de que a afirmação do poeta Olavo Bilac: “A última flor do Lácio”, é realmente uma herança inestimável.